Diário de Bordo - Sérgio

 

25/07/2006

Dormimos bastante, até estarmos bem descansados e para o café da manhã fiz tapiocas. Todos gostaram muito. Só não gosto da sujeira que elas causam. Resolvemos ir até uma praia e fomos pegar um táxi. O Novais, taxista conhecido, nos levou até a lagoa do Abaeté, homenageada por Dorival Caimmy (“No Abaeté tem uma lagoa escura, arrodeada de areia branca...”) e conhecemos o lindo lugar. Adoro levar as crianças em lugares assim, conhecidos de canções, filmes ou estórias. Eles adoraram e aproveitaram para jogar futebol com a bola que ganharam das meninas. Andamos um pouco pelas dunas próximas à lagoa (é perigoso se embrenhar nelas!) e tomamos uma deliciosa água de coco. Voltamos ao táxi e seguimos para a praia de Itapuã (outra praia muito cantada!). Desta vez, quem se surpreendeu fui eu. Fomos até um canto da praia onde há um farol e o lugar é lindíssimo! Fizemos quase tudo que a música fala e “passamos a tarde em Itapuã”, com direito a arco-íris e tudo. Também aproveitamos para experimentar o queijinho coalho na brasa, do qual ficamos fãs e repetimos a pedida vários dias consecutivos. Após banho de mar com o “velho calção de banho”, vadiar muito lá e a tradicional água de coco, numa tarde linda e quente, retornamos para a marina. Tomamos banho e ainda tivemos disposição para ir até o Pelô, tentar ver as bandas Olodum-cover. Não achamos nenhuma e as crianças ficaram decepcionadas. Voltamos ao barco cansados, loucos por uma boa cama.

 

26/07/2006

Acordamos cedo novamente e, após o café, logo estávamos nos arrumando para ir até a praia da Barra, ao lado do farol da Barra. A praia é muito gostosa e boa para banho. Havia uns recifes na frente e mergulhamos um pouco lá, vendo vários peixes. Comemos queijos na brasa e conhecemos um engraçado e alegre vendedor de queijos, que fazia os queijinhos cantando paródias de músicas de sucesso. Uma figura! Pensando bem, não conhecemos nenhum baiano triste. Todos são muito alegres e as únicas feições de tristeza são dos pedintes do Pelô (feição que logo muda quando se afastam de nós). Após uma gostosa praia, que curtimos um bom tempo, fomos até perto do Farol da Barra. Como queríamos mostrar o espetáculo de som e luz da Igreja de São Francisco para as meninas, não conseguimos visitar o farol e seu museu. Vai ficar para outro dia. Corremos bastante para pegar o espetáculo e mesmo assim chegamos um pouco atrasados, mas valeu: vimos novamente o lindo espetáculo. As meninas gostaram muito e, após o término, visitamos a igreja novamente. Depois do show retornamos ao barco, tomamos um banho e fomos jantar acarajés no Rio Vermelho. A Lu nunca o experimentou, mas gostou muito do ótimo acarajé da Dinha. Até a Carol, que não gostou muito da primeira vez, comeu com gosto. Encerramos com uma cocada do lugar que deu para os quatro comerem! Após um passeio pelo lugar, voltamos ao barco e fomos dormir cansados.

 

27/07/2006

Acordamos bem cedo para fazer um passeio longo: ir até a praia do Forte que fica a 85 km de Salvador. Pegamos um táxi até o bairro Calçada (perto da marina) e de lá pegamos um ônibus para a praia do Forte. O ônibus é demorado, mas barato: R$ 6,50 por pessoa. Demoramos um pouco mais de duas horas para chegarmos, mas sem a preocupação com dirigir. A praia do forte é BELÍSSIMA! Chegamos com maré baixa, o que permitiu visualizar todos os maravilhosos recifes de coral. Logo que chegamos fomos para a água, dentro de uma das piscinas que se formam na maré baixa. Mergulhamos bastante e vimos muitos peixes. As crianças brincaram bastante nas poças de água mornas que haviam no local e encontraram várias lesmas-do-mar. Demos uma andada pela praia e curtimos bastante o belo dia de sol que tivemos a sorte e aproveitar. Quando a maré começou a subir e os recifes a ficarem encobertos, fomos até o projeto Tamar. Vimos os tanques com tartarugas, grandes tubarões-lixa e até meros, entre outros. Na lojinha a Lu e a Mô encontraram uma amiga de São Paulo e ficamos conversando. Após algumas “comprinhas”, voltamos para pegar o ônibus. Ele passou logo que chegamos no ponto e assim seguimos para mais duas horas de viagem. Chegando no barco, largamos as coisas e subimos para o Pelô para jantar. Fomos no gostoso Pomerô e pedimos pratos tradicionais para as meninas experimentarem: o “escondidinho” e o “arrumadinho”. Elas adoraram. Voltamos caminhando para a marina, de barriga cheia e alma leve e feliz.

 

28/07/2006

O dia amanheceu chovendo e aproveitamos para dormir até mais tarde. Quando levantamos, tomamos o café e logo aproveitamos para arrumar as coisas para seguir para Itaparica. Fechei a conta na marina, comprei algumas coisas que faltavam, fiz a navegação e logo saíamos. Fomos deixando Salvador para trás e curtindo o lindo visual da maior, e talvez mais bela, baia do país. A navegação foi fácil e, seguindo os way-points do guia do Hélio Magalhães chegamos em segurança lá. Aconselho a chegar lá com a maré alta, pois há vários bancos de areia na região que podem assustar. Atracamos na linda marina de Itaparica, antigo CENAB de Itaparica, e logo o Zezinho veio nos receber. Ele nos orientou com várias coisas na cidade e disse que podíamos andar tranqüilos por lá. A cidade é pequena, mas bem bonitinha e lembrei bastante da ilha do Paquetá (apesar de haver alguns automóveis no local), só que ela tem uma água maravilhosa. Descendo do barco, logo vimos grandes cardumes de tainha, barracudas e bons robalos perto do píer. Infelizmente é proibido pescar no local. Fomos até a praia do Forte, onde há um antigo forte que não pode ser visitado. Pegamos uma gostosa praia, pois o sol havia aparecido, mergulhamos, nadamos e vimos um belíssimo pôr-do-sol. O Jonas aproveitou para colocar o veleirinho que havia ganhado das meninas para velejar. O barquinho é demais! Veleja muito bem e tem muitas regulagens. Voltamos à marina, tomamos um banho e fomos até um restaurante recomendado pelo Zezinho. Nos surpreendemos com os preços: ótimos! Pedimos um caldo de camarão para a entrada que estava delicioso. A pedida foi lagosta com batatas sauteé e uma paella com lagosta. Além de barato é super bem servido. Comemos maravilhosamente bem. Foi a primeira lagosta do Jonas e da Carol fora de casa e eles gostaram bastante. Voltamos ao barco, pois estávamos todos cansados e dormimos maravilhosamente bem.

 

29/07/2006

Acordamos com vontade de mergulhar. Após o café pegamos logo o material de mergulho e fomos para o banco de areia ao lado da marina. Eu e a Lu pegamos o bote, após deixar o resto do pessoal no banco, e fomos tentar caçar embaixo de uma sinalização de perigo do banco de areia. Não vi os peixes grandes que esperava, mas foi um mergulho gostoso. Voltamos ao banco onde conhecemos um italiano que está viajando de veleiro e sua amiga com o filho. As crianças brincaram bastante com os barquinhos e o garoto, se entendendo mesmo não falando a mesma língua. Retornamos ao Fandango e fomos até a praia do Forte. Aproveitamos o final do dia lá e andamos um pouco por ela. Curtimos muito e depois voltamos para a marina e fomos tomar banho. Quando íamos jantar no restaurante de ontem (o Namaste), ele estava cheio. Aproveitamos para conhecer a fonte de água mineral que abastece o local. A água é excelente e é ela que abastece a marina e até os banheiros. Isso significa que tomamos banho e lavamos o barco com água mineral! Na fonte há uma frase engraçada: “Eh, água fina, faz velha virar menina”. As crianças aproveitaram para tirar um sarrinho da Lu e da Mô. Voltamos e ainda tivemos que esperar bastante para liberar uma mesa, mas valeu a pena. Jantamos postas de cavala com batatas com salada e farofa. Voltamos ao barco cansados e logo estávamos dormindo.

 

30/07/2006

Hoje queríamos ir a uma praia bonita e diferente. Tomamos uma água na bica e logo fomos de táxi para a praia da Ponta de Areia. É uma bela praia, muito tranqüila nesta época e lá mergulhamos um pouco. As crianças ficaram horas brincando com os barquinhos e se divertiram muito. Comemos queijinhos-coalho na praia, dos quais ficamos fãs. No final da tarde retornamos à marina. Por conta de um “desentendimento” entre as crianças, elas ficaram de castigo no barco. Fomos então dar uma volta pela cidade e a conhecemos um pouco: lindas casinhas bem cuidadas, uma bela igreja com outra pequena ao lado e um comércio razoavelmente desenvolvido. Paramos numa pizzaria-pastelaria e comemos ótimos pastéis. Levamos os pastéis para o barco e as crianças fizeram a maior festa com eles. Antes de dormir ainda passeei um pouco com a Lu pelo píer, que estava triste por ter de ir embora amanhã. A noite estava tranqüila e estrelada.

 

31/07/2006

Acordamos cedo e logo saímos para Salvador. A Lu e a Mô compraram pães numa padaria perto e fizemos nosso café no caminho. O último trecho da viagem foi feito à vela, numa orça deliciosa e sem ondas. Chegamos em Salvador e ficamos na mesma vaga de onde tínhamos saído. Logo a Lu arrumou as malas e eu a levei ao aeroporto. Nos despedimos (chuiff) e retornei ao barco. Subimos para o Pelourinho e fomos tentar ver o espetáculo de som e luz novamente. Não tivemos sorte: não apareceram outros interessados e eles suspenderam o espetáculo. Fomos conhecer a linda igreja ao lado. Ela também é da Ordem de São Francisco e tem sua frente toda feita de pedras esculpidas. Internamente é muito linda, mas o que mais me chamou a atenção foi o maravilhoso órgão que há no piso superior. Pena estar fechado e não podermos vê-lo. Visitamos o seu museu e saímos. Vimos uma exposição de fotos muito legal e seguimos para a Casa Jorge Amado, para que a Mô conhecesse. Vimos todas as fotos do andar inferior e subimos para mostrar para a Mô os resumos das obras. Ficamos um bom tempo lá. Na volta, quando descemos a escada, nos deparamos com um movimento incomum. Muita gente, câmeras de TV, luzes e uma pequena senhora com um lindo e simpático sorriso sentada numa cadeira. Era o inconfundível sorriso de Zélia Gattai. Estava sendo lançado um livro sobre ela exatamente naquela noite: “Zélia de Euá – Rodeada de Estrelas”. Ela dava uma entrevista para a Rede Globo e nós fomos ficando por lá. A porta estava fechada e só entravam convidados. Demos sorte! Quando íamos tirar uma foto dela, ela levantou e a ajudaram a entrar. As crianças quiseram conhecê-la, mas eu fiquei com pena de invadir a privacidade dela. Fiquei vendo a lojinha de livros e a Mônica foi atrás dela com a Carol. Daí a pouco escutei a Carol chamando: “- Pai, vem tirar uma foto com a Zélia!”. Fui para lá com o Jonas e ninguém menos que Paloma Amado, filha de Jorge e Zélia, segurava a máquina fotográfica da Mô e chamava Zélia: “- Mãe, vamos tirar uma foto com seus amigos”. Extremamente simpática, Zélia começou a conversar com a Carol, que contou que estávamos velejando pelo Brasil. Ela perguntou se a Carol não tinha medo. Contei um pouquinho de nossa viagem naqueles segundos que nos foram permitidos e contei que estávamos lendo “Navegação de Longo Curso”, enquanto Paloma mostrava que puxou da mãe o talento em fotografia e tirava lindas fotos nossas. Logo tivemos que ir, pois começava o lançamento. Saímos emocionados com o encontro, eu talvez mais, por conhecer bastante da vida dessa senhora de uma juventude e força invejáveis através do livro “Navegação de Cabotagem” de Jorge Amado, livro de memórias, onde ele conta muitas passagens de sua vida, da qual Zélia foi a parte principal. Voltando ao barco, fiz panquecas e, entusiasmados com o encontro, lemos mais um capítulo do livro.

 

01/08/2006

Levantamos eram oito e meia. Logo fiz um café da manhã com ovos mexidos, bacon e pães com manteiga e queijo. Após o café, rapidamente nos vestimos para irmos até a Capitania dos Portos. Lá, fomos recebidos pelo Capitão-dos-Portos Miranda. Extremamente simpático, conversamos muito sobre nossa viagem, mergulhos, a beleza do litoral baiano e nossa vontade de conhecê-lo bem. Agradecemos muito a atenção que eles estão nos dispensando ao longo de nossa viagem e demos os parabéns pelo projeto “Legal no Mar”, de conscientização e educação dos navegadores baianos. O Jonas lembrou bem: desde que entramos na Bahia, nenhuma lanchona desviou seu caminho para passar próximo do Fandango e balançar o barco (que acho ser a diversão predileta de “certos” proprietários de lanchas). Ganhamos vários presentes da Capitania e também o utilíssimo e maravilhoso “Guia Náutico do Litoral da Bahia” do Capitão-dos-Portos. Conversando sobre o guia e sua qualidade, o Capitão-dos-Portos nos disse que precisávamos conhecer o sr. Zacharias, do CENAB. Após a entrevista com o Capitão-dos-Portos, fomos para o CENAB onde fomos recebidos pelo Zacharias. Elogiamos o guia e toda a estrutura de Bases de Apoio Náutico (BAN’s) por trás dele. Elogiamos as que nos receberam, todas atenciosas, e conversamos sobre cada uma. Esse projeto deveria ser estendido por toda costa brasileira, de tão bom que é. Você já pensou: em todo lugar que chegasse de barco ter um apoio náutico que orientasse com relação à atracação, ancoragem, condições locais, lugares para visitar, lugares para comprar coisas e com quem fazer alguma manutenção necessária? Saímos da reunião com algumas dicas sobre Tinharé e Boipeba, onde pretendemos ir amanhã. Voltamos ao barco onde colocamos a casa em ordem, acessei previsão de tempo e fiz navegação para esses locais, entrando por Morro de São Paulo, já utilizando o presente recebido. Resolvemos sair para passear um pouco e fomos em direção ao Pelô. Conhecemos o lindo Palácio Rio Branco, ao lado do Elevador Lacerda na cidade alta, e fomos até a Casa Jorge Amado. Tomamos um gostoso café lá, vendo reportagens em vídeo sobre Jorge Amado. Na saída compramos um livro dele (O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá – infantil) e a Mô comprou o livro sobre a Zélia Gattai. Retornamos à marina onde tomamos banho, jantamos uma gostosa sopa e lemos mais um capítulo de “Capitão de Longo Curso”.

 

02/08/2006

Acordei de madrugada e não consegui dormir de novo. Então aproveitei para fazer alguns diários atrasados e algumas coisas no computador. Dormi de novo às seis, mas não consegui acordar de novo às 7:30 hs para irmos para Morro de São Paulo. Mesmo acordando um pouco mais tarde, resolvemos ir. A Mônica foi comprar algumas coisas para abastecer o barco enquanto eu, Jonas e Carol arrumávamos tudo para zarpar. Saímos às nove horas e antes do Farol da Barra já estávamos velejando. Fomos deixando para trás Salvador com um excelente vento nos levando. O mar estava um pouco picado e como nuvens de chuva estavam vindo em nossa direção resolvi rizar a mestra. Uma hora depois o vento diminuiu e precisamos ligar o motor para chegar de dia em Morro. Usamos o motor por uma hora e depois o vento aumentou novamente e girou para o través. Abrimos velas novamente e fomos fazendo uma gostosa velejada com todo o pano num vento de cerca de dez nós. A Mônica estava louca para ver baleias e estávamos atentos. Deixamos o Alfredo “descansando” e fomos nos revezando nos quartos, ficando uma hora casa um no leme. Aproveitei para dormir mais um pouco para recuperar a noite mal dormida. Algum tempo depois a Carol viu um jorro ao longe. Fomos nos aproximando e vimos uma baleia ao longe. Logo ela sumiu e não a vimos mais. A Mônica já ficou animada, mas a visão foi rápida e não tão próxima quanto gostaríamos. Continuamos no caminho, passando por várias bóias de espinhéis e redes, sempre atentos para não passar em cima delas. A Mônica foi para o turno dela e aproveitei para descansar mais um pouco. De repente escutei o grito dela: “- Baleia!”. Levantei e ao sair da cabine vi um grande dorso escuro mergulhando bem atrás do Fandango a uns vinte metros. Soltei um pouco as velas para diminuir a velocidade e logo ela apareceu novamente na superfície atrás do barco. Continuamos devagar e logo subiram dois dorsos juntos, um ao lado do outro. Era um casal de jubartes e estavam nos acompanhando à distância. Ficamos excitadíssimos e estávamos indecisos entre ficar olhando as baleias e tentar fotografá-las. A Carol logo foi colocar o biquíni e pegar a máscara de mergulho, mas nessa hora as jubartes já estavam se afastando. Ainda as vimos subir mais umas duas ou três vezes ao longe e depois sumiram. Continuamos alegres em direção à Morro de São Paulo, com a Mônica com cara de êxtase! Fomos nos aproximando desviando de alguns barcos da região e logo estávamos entrando pela barra de Morro de São Paulo, com as ruínas de um forte antigo ao lado e sobre nós um lindo farol na encosta do morro. Passamos o píer da cidade e fomos fazendo a navegação, seguindo os way-point’s do Guia Náutico do Litoral da Bahia. Passamos pelo Restaurante Iate Clube de Morro de São Paulo e nos afastamos de pedras perigosas a boreste. Pouco depois seguimos rumo à Gamboa e procuramos um lugar para ancorar. Como os bons lugares pareciam estar todos tomados por poitas, falamos com o rapaz de um barco e pegamos uma poita (ou “amarração”, como dizem por aqui). Eram quatro horas da tarde quando chegamos. Arrumamos o barco, fiz um macarrão com atum e ovos estrelados e fizemos um belo jantar. O sol se pôs maravilhosamente e logo o sono chegou. Dormi no sofá enquanto as crianças faziam o diário. De repente o telefone tocou: era a filha de Genival, guia de Canavieiras, me telefonando para marcar nossa ida para lá. Meio dormindo, marquei para irmos para lá amanhã. Gostei da atenção e da preocupação deles. Pouco depois estávamos todos dormindo tranqüilamente. No meio da noite acordei com alguns barulhos. A bóia de poita começou a bater no casco em virtude da mudança da maré. Quando fui amarrar a bóia ao Fandango vi que o cabo da poita ficava todo brilhante quando era dobrado. Como a noite estava muito escura, pois a lua já havia descido no horizonte e havia muita ardentia no local, o cabo se iluminava. Fiquei brincando com ele um pouco, dobrando-o e esticando, vendo as luzes se acenderem e apagarem. Entrei na cabine e não liguei a luz para não acordar o pessoal. Fui lavar a mão na pia e usei a água salgada por engano. Novamente via luzes, jorrando da torneira da pia. Só não acordei todos, pois sabia que estavam muito cansados. Fui dormir novamente para estar inteiro para os passeios de amanhã.

 

03/08/2006

Acordamos bem cedo. Chamei a tripulação com pena de acordá-los, mas precisávamos aproveitar a maré subindo para ir até Cairu e Canavieiras. Liguei logo para o Genival para avisá-lo de nossa ida e partimos às sete e meia de Gamboa. Logo estávamos perto do Curral, que parece ser muito bonito. Fomos seguindo, fazendo a navegação canal adentro, onde a paisagem era de mangue nas duas margens. De vez em quando víamos alguns coqueiros e encravados entre eles uma ou duas casinhas. Eu ia muito atento, pois a zona pela qual navegávamos não era hidrografada, ou seja, não há carta náutica para o local. Passamos na frente de Galeão e vimos ao longe a cidade de Valença. Continuamos seguindo, desviando das bóias de redes e vendo muitas canoas à vela andando pela região. Chegamos em Cairu e nos pareceu ser um lugar muito agradável para visitar. Ficamos esperando o Genival chegar e logo ele apareceu. Como a maré estava alta, boa para seguir viagem, resolvemos deixar Cairu para outro dia e seguimos para Canavieiras com o Genival levando o leme do Fandango. Relaxei e comecei a fotografar a linda região e os barcos. Algumas lanchas rápidas passaram por nós com destino à Canavieiras. Finalmente, às dez e meia, chegávamos à Canavieiras. O pequeno vilarejo é muito bonitinho e bem arrumado. Nos lembrou muito Sapinho. Descemos e logo estávamos conhecendo o vilarejo com Tânia, filha de Genival, como guia. Vimos onde Genival defuma os camarões que vende em Salvador, a nascente de água que fica no fundo da vila e as árvores locais: fruta-pão, graviola, coqueiros, dendê, cacau e muitas outras. Após a pequena caminhada, voltamos para a casa de Genival onde iríamos almoçar. Logo colocavam na mesa um prato que nos falaram para não perder: moqueca de siri catado, camarão seco e ovos de quintal! Que delícia! Logo começamos a brincar com Dna. Carminha, esposa de Genival, que ela o prendeu pelo estômago. Comemos e ficamos na varanda da casa de Genival conversando. Contamos histórias, escutamos histórias, conversamos sobre barcos, velejadores e gente em comum que conhecemos e logo estávamos nos sentindo em casa. Após o almoço, ainda comemos um pouco de amendoim, tomamos café e comemos laranjas! Pouco depois, a Carol que estava ajudando a plantar cocos, veio com três lindos cocos e ainda ganhou um cacau. Tomamos a água de dois cocos e Tânia deixou o outro pronto para tomar. Vimos várias revistas e livros falando de Genival e de Canavieiras e assinamos seu livro de visitas. Lá encontramos alguns conhecidos e entre eles o Janjão do Sweet, que foi o primeiro a nos falar para não deixar de passar por lá. Voltamos ao barco quando o sol já estava se pondo no horizonte baixo do local, que mais parece o pantanal matogrossense do que propriamente mar. Tomamos um gostoso banho de mar que espantou a preguiça e fomos fazer nossos diários. Dormimos cedo para aproveitar bem o dia seguinte, impressionados com a simpatia, calor humano e receptividade dessa família que conhecemos hoje e que já queremos bem.

 

04/08/2006

Seis da manhã já estávamos de pé. Logo tomamos nosso café, nos arrumamos e ficamos esperando o “Gevânia” encostar ao nosso lado para fazermos um passeio até Boipeba. O irmão e o filho de Genival nos levariam até lá. Logo subíamos na traineira e, logo após Canavieiras, entrávamos num braço de mar estreito. Andamos por quase uma hora naquele braço, que tinha de 20 até uns 100 metros de largura. Ao longo do caminho fomos vendo várias garças azuis e a bela vegetação de mangue com suas raízes estruturais (conforme ia descrevendo a “enciclopédia” Jonas). A profundidade variava muito e em alguns trechos raspou o fundo da embarcação no lodo do fundo. De repente, começamos a ver uma ponta de areia e começamos a ver o mar aberto. Estávamos chegando à praia do Pontal com a bela Boipeba Velha na frente. O lugar é maravilhoso! De um lado do braço de mar, uma grande ponta de areia cheia de coqueiros avança ameaçando invadir o canal. Do outro, uma pequena vila, quiosques de praia e várias belas pousadinhas dividem seu espaço numa praia parte dentro do canal protegido e parte voltada para mar aberto. Enquanto cruzávamos a barra, conseguimos ver coqueiros para os dois lados, em praias desertas que se perdiam no horizonte. Na saída da barra várias ondas nos esperavam e algumas quebraram na proa da traineira. Como seu costado na proa é alto e o ângulo e curvatura dele perfeitos, ela cortou essas ondas abrindo-as, sem nos molhar dentro do barco. Fomos deixando para trás essas belas praias em direção ao nosso destino: Cueira. Seguimos por dentro dos recifes de coral e vinte minutos depois chegamos. Essa praia é considerada uma das mais belas do mundo e o “título” é merecido. Descemos na praia deserta e logo começamos a encontrar belos búzios na areia. Caminhamos até uma ponta próxima, de onde víamos praias e coqueiros se perdendo dos dois lados. Na nossa frente víamos a sombra dos recifes de coral que se estendiam por quase dois quilômetros na direção do mar. Pena foi não termos a maré certa para mergulharmos nos recifes de coral. Caminhamos tranqüilamente por meia hora pela praia até chegarmos em Boipeba. Linda praia e lindo vilarejo. A Carol e o Jonas ficaram brincando com um cachorro que adorava buscar pedaços de madeira. Voltamos ao barco e iniciamos a volta, mesmo sem termos tomado um banho de mar. Como ainda era cedo e ventava um pouco, acabamos curtindo mais o passeio nessa praia paradisíaca. No retorno, entramos novamente na barra e, desta vez, surfando. Apenas uma onda deu um pouco mais de emoção, mas para mim foi o suficiente. Uma coisa é surfar com o veleiro ondas em lugares muito profundos. Outra é surfar as ondas com uma traineira em lugares rasos, onde se deixar atravessar o barco ele capota. Logo depois da entrada da barra em Velha Boipeba e descemos. Andamos um pouco pela praia e vimos lindos chalezinhos à beira-mar. Fomos até lá e descobrimos, por acaso, a linda pousada Vila Sereia. Com apenas quatro chalés, está pousada é lindíssima, muito bem localizada e tem todo o cuidado e atenção de seus funcionários. Só para terem uma idéia, num dos chalés que estava ocupado, uma peça de cerâmica em forma de uma grande concha, com água e flores vermelhas dentro esperava seus hóspedes retornarem da praia para lavarem os pés. Quando pedimos o cartão de lá, a surpresa: era a pousada que nossos amigos Luís e Mariana haviam falado para não deixarmos de conhecer. Ficamos na linda praia, na sombra de um quiosque, aproveitando o início da tarde. Comemos batatas fritas, tomamos uma água de coco e eu e a Mônica não resistimos a tomar uma “rosca” (caipirinha de vodka) como chamam por aqui (como é bom não ser o comandante do barco de vez em quando!). Estendemos até as duas horas nessa praia. Tomamos banho de mar, curtimos o delicioso sol do inverno baiano, mas chegou a hora de voltarmos por causa da maré que descia. Retornamos ao barco e iniciamos a volta dentro do canal. O retorno foi feito em outro canal, um pouco mais profundo, mas muito mais estreito. Passamos por lugares onde os galhos das duas margens batiam ao mesmo tempo dos dois lados da embarcação, cuja boca era cerca de três metros e meio. Quando o canal alargava vinha o perigo: a profundidade diminuía. Em vários lugares passamos “arando” o fundo e, mesmo com o motor em alta rotação, nos arrastávamos pelo lodo. Não havia perigo, mas não gostaríamos de ficar encalhados ali esperando a subida da maré. Finalmente vimos a saída e logo após enxergávamos o Fandango nos esperando. Agradecemos o passeio, pegamos nosso bote e descemos em terra. Hoje iríamos experimentar a deliciosa moqueca de camarão da Dna. Carminha. Estávamos todos com fome e logo nos sentamos logo à mesa. Uma grande travessa de feijão, cheio de carnes (carne seca, costela e paio), foi colocada a nossa frente. Olhei para o Jonas e seus olhos brilhavam. Pouco depois veio o arroz e a linda moqueca. Nos servimos e tudo estava delicioso! Como cozinha bem essa mulher. O Jonas, especialista em feijão, disse que o local deveria ser famoso também por causa dele, talvez até acima das moquecas. Comemos maravilhosamente bem. Quem comeu menos foi a Carol, que fez três pratos! Incrível é que, depois de satisfeitos (ou deveria dizer “abarrotados”), ainda comemos uma cocada que uma menina passou vendendo. Depois de meia hora de descanso, conversando com Dna. Carminha e Tânia, nós começamos a brincar com a tarrafa que havíamos levado. Treinamos em terra e, com a orientação da Tânia, começamos a acertar. O Jonas logo pegou o jeito e aí seguimos para o píer, na esperança de pegar algum peixe para estreá-la. Não pegamos o peixe, mas conseguimos jogá-la cada vez melhor, sempre caindo bem aberta. Quando o sol se pôs retornamos ao barco, onde ainda curtimos o belo visual do anoitecer no lugar e a lua e as estrelas espelhadas no mar calmo totalmente liso. As crianças estudaram, jogamos Zigity com a Mô e ainda lemos um capítulo do “Capitão de Longo Curso” antes de dormirmos.

 

05/08/2006

Hoje tiramos o dia para descanso e curtir Canavieiras. Acordamos tarde, tomamos um bom café da manhã, fizemos algumas coisas de “obrigações” que precisávamos. Em seguida descemos em Canavieiras e fomos até a casa do amigo Genival. Demos bom dia e, enquanto a Carol ia brincar com as meninas, eu e o Jonas tentávamos jogar tarrafa. Não pegamos nada, mas treinamos bastante e pegamos bem o jeito. Depois fomos no restaurante flutuante de ostras da Tânia, onde a Mônica estava. Ficamos ali, batendo papo, com as crianças brincando na água, pulando do flutuante. Comemos ostras e o Jonas e a Carol adoraram. Até a Mônica, que não tinha coragem, comeu duas e gostou. Um menino (Pepito) fez uma declaração de amor para a Carol do restaurante ao lado. Ela ficou toda envergonhada e bem brava conosco. Foi engraçado! Voltamos para terra e ficamos conversando com o Genival e a Dna. Carminha. A Mônica queria ir embora amanhã para Itaparica. Conversamos sobre os horários bons para isso e resolvemos sair amanhã às nove horas. Fomos conversar sobre a “parte chata” das coisas que fizemos com eles e os preços foram super justos: passeios, serviço de guia e refeições. Demos uma passeada para conhecer o resto de Canavieiras, que é bem pequena, mas muito acolhedora. Aproveitamos para nos despedir de Dna. Carminha, Tânia e das outras pessoas do local. Voltamos para o barco e pegamos uma chuvinha no caminho. Quando parou, tomamos banho de mar e fizemos um macarrão com atum, que foi um sucesso. Eu havia recebido uma ligação de Ilhabela e dei retorno. Foram ótimas notícias: nasceu o casal de gêmeos filhos de nossos amigos Edmon e Yara de Ilhabela, que há mais de doze anos tentavam tê-los. De quebra, eles são netos da Dna. Cida, que por uma coincidência muito grande citamos ontem no almoço, pois é muito parecida com a Dna. Carminha. Foi a Dna. Cida que me ajudou a cuidar das crianças na pior fase de nossas vidas. Fui dormir contente, após o dia delicioso e imaginando a felicidade dos amigos de Ilhabela.

 

06/08/2006

O despertador tocou faltavam dez minutos para as quatro horas. Eu ia ajudar a recolher os manzuás (armadilhas para siris) que o Genival havia colocado ontem. Ele passou no barco logo após as quatro e logo saímos. Fomos navegando pelos canais ainda escuro, com ele guiando o barco pelos pontos de referência há muito conhecidos. Chegamos no local das armadilhas, que era longe, e fomos entrando por um canal raso e estreito. Fomos até o final do canal e começamos a recolher as últimas. Tentamos fazer isso o mais rápido possível, pois a maré estava rasa e ainda descendo mais. Com o gancho na mão e grande prática no leme, que era dirigido com o pé, ele pegava as armadilhas uma a uma e as lavava, soltando a isca que era composta de peixinhos mortos. Recolhemos as armadilhas mais distantes e retornamos rapidamente com o barco. Saímos do canal raso e então ele pegou a canoa e foi recolher os manzuás mais próximos. Enquanto isso, no barco, eu desatava o nó de um canto do manzuá, abrindo um buraco e despejava os siris dentro do cesto. Quando ele retornou, começamos a volta, comigo dirigindo o barco segundo a orientação dele, enquanto ele abria os manzuás restantes. Pegamos um grande cesto de siris que, logo que chegamos, foram fervidos para serem “catados” (removida a carne de dentro). Tomei um café na casa da Dna. Carminha, despedimo-nos novamente e voltei ao barco. Arrumamos as coisas para sairmos, tomamos um café e logo seguimos caminho em direção à Cairu. O vento ajudou a viagem e logo chegamos lá. Nos despedimos do amigo Genival, que nos recebeu tão bem em sua casa e fomos conhecer Cairu. Dois garotos nos esperavam e nos levaram para conhecer a cidade e um garoto ficou “tomando conta” do bote. Conhecemos a pequena cidade rapidamente e fomos com a Mônica numa lanchinha pequena de alumínio (o “táxi” de lá) até Graciosa, onde ela pegaria o ônibus. Ficamos na beira da estrada na porta de um bar esperando e batendo papo com um cara “bebaço”, mas gentil e que queria nos vender jogos americanos que fazia. Ainda bem que o ônibus chegou logo. Nos despedimos e retornamos para Cairu, com as crianças com a maior “cara de enterro”, já com saudades da “Mozilda”. Quando chegamos em Cairu, vimos o Fandango longe de onde havíamos ancorado. Pegamos o bote e “corremos” para lá. Chegando perto, vi que estava encalhado num banco de lodo e com a âncora enroscada na quilha. Provavelmente ele girou com um vento que entrou enquanto estávamos levando a Mô, enroscou o cabo de âncora na quilha, ficou de lado para o vento e a corrente e saiu arrastando a âncora. Liguei o motor, dei ré e rapidamente ele saiu em direção ao canal profundo. Deixei o Jonas no leme e fui à proa para recolher a âncora. Ancoramos novamente na frente da cidade e voltamos para Cairu. Fomos no restaurante Beira-Mar e, com um olho no barco e outro na comida, comemos uma deliciosa moqueca e arraia, nossa primeira. Estava deliciosa! Mesmo assim, vou continuar a soltar as arraias quando pesco. Tirei algumas fotos da cidade e voltamos para o barco. Aproveitamos a maré alta, que começava a descer e fomos retornando em direção à Galeão. Eu não sabia onde iria parar. Essa é uma das vantagens de não termos compromissos. Chegamos em Galeão eram três e meia e resolvemos parar e conhecer a cidade. Ancoramos ao lado de um lindo veleiro estrangeiro e aproveitei para dormir uma hora, recuperando o sono perdido da manhã. Descemos na cidade e dois garotos, Cacau e Bira, esses sim simpáticos e que não viam “cifrões” quando olhavam para nós, nos levaram para conhecer a linda igreja no alto do morro. O conjunto de igrejas da região tem contato visual umas com as outras. Isso era usado para informar quando estava para acontecer alguma invasão ou chegada de piratas. Caminhamos pela simpática cidade, comprei alguns pães e retornamos para o barco. Comemos um lanche e fizemos nossos diários. Antes de dormir, mais um capítulo do delicioso “Capitão de Longo Curso” para ajudar a chegar o sono! Deixei o despertador para tocar no horário de virada de maré para ver se o cabo de âncora não enroscava na quilha. Tivemos uma noite ótima e tudo foi tranqüilo, com a bela igreja de Galeão iluminada a noite toda.

 

07/08/2006

Eram oito horas quando acordamos. Fui dar uma olhada na tábua das marés e vi que o horário propício para ir para a praia do Curral era agora. Acordei a tripulação e logo estávamos saindo de Galeão. Fomos navegando de olho nas bóias de manzuás e espinhéis (é cheio no local) e uma hora depois ancorávamos na frente de Curral, perto de cinco casinhas existentes na praia. O vento estava forte, mas a âncora segurou muito bem e então fizemos nosso café da manhã. Pegamos o motor de popa, toalha, máquina fotográfica e descemos na lindíssima praia. Curral é uma ponta de areia que avança sobre o canal existente entre a Ilha de Tinharé na região de Morro de São Paulo e o continente. Como chegamos na maré baixa, pudemos andar por ela até contornar a ponta, seguindo um pouco na direção oposta a Morro de São Paulo. Da ponta se enxerga Gamboa, o farol no topo do Morro de São Paulo, parte do canal e uma praia que se perde de vista na direção de Salvador. Caminhamos um pouco e depois retornamos para perto do bote. O vento havia diminuído e o sol estava ótimo. Deitei um pouco para descansar e as crianças ficaram fazendo o “Castelo de Hogwarts” em areia. A praia, cheia de lindos coqueiros, era só nossa. O ancoradouro ali é muito abrigado e deve ser melhor ainda quando venta o nordeste. O barco fica próximo à praia num fundo de cinco metros. Após o descanso, voltamos para o Fandango onde fiz um macarrão alho-e-óleo com ovo frito, prato que as crianças estavam com saudades. No meio do cozimento do macarrão, acabou o gás. Troquei o bujão, que durou bastante e irei recarregá-lo em Salvador. Saímos de Curral no estofo da maré alta e seguimos para Galeão, chegando rapidamente lá. A poita que haviam nos prometido estava com um barco e procuramos com pescadores outra poita para ficarmos. Conhecemos o Jairo, que nos alugou uma poita num bom lugar. Minha idéia é deixar o barco em Gamboa e visitar Morro de São Paulo com os barcos de transporte normais, que chegam rapidamente lá e não cobram nada o transporte. Descemos para conhecer Gamboa quando já estava escurecendo. Fomos num mercado comprar pães e queijo e os mercados pareceram ser bem abastecidos. Só não encontramos frutas, pois elas chegam só na quarta-feira por aqui. Depois do passeio rápido pela cidade, paramos ao lado do píer para comer um crepe na creperia Tupy, de um francês chamado Yves. Ótimo crepe, preço muito bom e acabamos tomando um açaí de quebra. Retornamos ao barco para estudar e fazer diários. Antes de dormir, mais um capítulo do livro de Jorge Amado.

 

08/08/2006

Acordamos com o tempo chuvoso e resolvemos ficar mais um pouco na cama. Quando começou a melhorar, tomamos o café da manhã, pegamos o bote e fomos para a praia. Deixamos o bote guardado com o Jairo, que está alugando uma “amarração” (que é como eles chamam a poita aqui) para nós e pegamos o barco para o Morro de São Paulo. Em quinze minutos estávamos lá e logo fomos ver o forte antigo que há lá. Muito bonito, o forte apenas precisa melhor conservação, pois seu muro está partindo e caindo em vários pontos. Ao lado dele há uma linda praia, que na maré baixa fica com várias piscinas naturais pequenas e de onde vemos a primeira praia de Morro de São Paulo. As praias de Morro de São Paulo são “numeradas”: primeira, segunda, terceira e quarta praia. As únicas que levam nome são a praia do Forte e a praia do Encanto. Retornamos da praia do Forte e fomos andando pela bela vila, com ruas de areia e muitas comércios, entre lojas, restaurantes, pousadas e empresas de turismo. O turismo estrangeiro é muito forte aqui. Vimos uma igrejinha muito bonita e numa praça havia um café muito agradável chamado Café das Artes. Vimos várias mulas e jumentos, usados para o transporte pesado. Como os únicos veículos são tratores, eles usam os animais para transportar coisas pesadas. As mais leves são carregadas com carrinho de mão, por carregadores que você contrata no píer. Fomos descendo a ladeira até chegarmos na primeira praia. O tempo já havia melhorado e até o tímido sol havia saído. Andamos pela primeira praia, que é pequena e chegamos na segunda. A segunda praia é muito bonita! Há várias pousadas, lojas e restaurantes na praia, mas retiradas, permitindo que os turistas possam aproveitá-la bem. Tudo custa dinheiro lá. Até cadeiras de praia são alugadas. Temos que tomar muito cuidado para não sermos explorados em Morro de São Paulo. Chegamos na terceira praia, que tem alguns barcos ancorados na frente e mais comércio, que avançou bastante na praia. Quando a maré sobe, não sobra praia! Esta também é curta. A quarta praia é muito comprida. Começamos a andar e andamos uns quatro quilômetros. Quando perguntamos se ainda estávamos longe da praia do Encanto, a resposta foi: “- Bastante”. Resolvemos voltar, pois vimos chuva vindo na nossa direção. Paramos para comer um abacaxi, mas nos pediram R$ 5,00 por um. Viramos as costas e seguimos. Trinta metros depois estávamos comendo um abacaxi maior por R$ 3,00. Vimos vários cavalos para locação na quarta praia e também charretes. Peguei o telefone de um dono de charrete e, se amanhã estiver bom o tempo, vamos tentar conhecer a praia do Encanto sem gastar tanto as pernas. Voltamos para a segunda praia com a garoa caindo e fomos até barracas que vendiam pastéis. Desistimos, pois achei demais o preço de R$ 6,00 cada pastel. Perguntamos e nos informaram que um restaurante simples chamado “PF da Pretinha” tinha boa comida e era barato. Fomos até lá e pedimos uma moqueca de camarão e um bife acebolado. Acompanhamentos: farofa, salada, feijão e arroz. Comemos muito bem! Tudo muito bom, com um feijão que até a Carolina repetiu várias vezes. O preço total foi R$ 14,00! Tomamos um banho de mar sob uma garoa fina, nos secamos e fomos até o Café das Artes. Nos lembrou muito o Ponto das Letras de Ilhabela. Tomamos café e comemos bolos de chocolate com cenoura tranqüilamente, matando um pouco de saudades do nosso lugar preferido de Ilhabela. Vimos mais algumas lojas e retornamos para Gamboa. No caminho vimos dois golfinhos, no canal entre Morro e Gamboa. Rapidamente pegamos o bote e chegamos no Fandango antes da chuva nos pegar. No barco, fizemos os diários, as crianças estudaram e fiz algumas atividades na internet. Lemos vários capítulos do “Capitão de Longo Curso” e dormimos.

 

09/08/2006

Novamente chuva de manhã. Acordamos um pouco mais tarde e tomamos nosso café. Logo o sol ameaçava sair e vimos que o céu azulava para o lado de Morro de São Paulo. Pegamos nossas coisas e descemos em terra. Deixamos nosso bote com o Jairo e resolvemos ir andando até Morro, pois a maré estava bem baixa. A caminhada foi muito gostosa e a paisagem é muito bonita. No meio do caminho vimos os destroços de um veleiro na praia: que frio na barriga! Logo chegamos à Morro e fomos direto para a segunda praia. O programa do dia era descansar. Fomos curtir a linda praia, com direito à top-less de uma italiana ao nosso lado. O sol saiu forte e nos proporcionou ótimos banhos de mar. As crianças fizeram castelos de areia e as pessoas se divertiam muito jogando frescobol e futebol. Havia muitos italianos na praia e muitos turistas estrangeiros. Depois de várias horas curtindo a praia, fomos comer no “PF da Pretinha”. Após o gostoso almoço, resolvemos conhecer o farol. Subimos ao lado do píer e após muitos degraus, estávamos na frente do grande farol. Seguimos para a direita e demos num lugar onde há uma tiroleza. A vista de lá é muito bonita e vemos a primeira, segunda e terceira praia. Fomos para o outro lado do farol e vimos o sol se pondo sobre o continente, Curral, a igreja de Galeão e Salvador. Linda vista! Havia várias pessoas lá, esperando o pôr-do-sol. Resolvemos retornar, pois vimos nuvens escuras vindo e não queríamos pegar chuva até chegar no barco. Fomos para o píer e pegamos o barco de volta para Gamboa. Lá, tomamos um açaí na creperia do Yves, nos despedimos e pegamos nosso bote para voltar ao Fandango. Após as obrigações, diários e estudo, lemos mais do delicioso livro de Jorge Amado e dormimos.